Meu nome é Bond...James Bond - Capítulo 2 - Viva e Deixe Morrer (1954)


Continuando com a série sobre os livros de Ian Fleming onde relato de forma descompromissada a experiência de ler na ordem em que foram escritos, trago um título muito especial para mim, Viva e Deixe Morrer. 
Na verdade, o livro não é um dos mais preferidos. O que torna essa título muito especial para mim na verdade é o filme. 
Uma rápida história da minha vida que tem tudo a ver com o post de hoje. Eu era apenas uma menina de seis anos de idade quando entrei na barbearia do meu saudoso avô João para ler o jornal do dia que entre outras coisas, noticiava que na Sessão da Tarde iria passar um filme chamado Com 007, Viva e Deixe Morrer. 
Curiosa, sem ter a menor ideia de coisa alguma, resolvi ver o filme. Assisti inteirinho e continuei sem entender nada mas naquele dia, a Bond Mania nasceu dentro de mim e até hoje esse sentimento se fortalece cada dia mais. 
Viva e Deixe Morrer traz a missão em que James Bond tem que combater o tráfico de heroína no bairro americano do Harley em Nova Iorque. 
O bairro do Harley também é retratado pelos traços culturais de seus costumes, sua música e culinária. Nem só de violência vive o Harley nessa estória e Fleming fez questão de deixar isso bem claro.
Ao mesmo tempo em que explora o universo do voduísmo e da magia negra representado pela mística figura do Barão Samedi e da cartomante virgem Solitaire que segundo a lenda é noiva do Príncipe que se foi e que deve permanecer casta para não perder seus poderes paranormais. Também há a figura de Kananga que, de certa forma a controla aproveitando - se de seus poderes à espera do dia em que, finalmente, retirará de Solitaire seu poder. 
Tanto no livro quanto no filme, o simbolismo sagrado de tudo isso está atrelado também à opressão sofrida pelo povo do Harley, um bairro considerado violento, de maioria afrodescendente que traz consigo toda carga de sofrimento de vários séculos. E Kananga deflorar Solitaire seria como uma "vitória" dos oprimidos sobre seus opressores já que Solitaire é a típica "deusa padrão" inatingível. 
Em meio a isso tudo é que Bond entra na jogada. Não só para resolver o caso mas também para tirar a oportunidade de Kananga ser o primeiro na vida de Solitaire, numa clara demonstração de "superioridade".
Porém 007 não está só nessa missão. No livro e também no filme, ele tem o apoio de seu velho amigo Felix Leiter, agente da CIA  e também de Quarrel, um agente aliado. E apenas no filme, ele conta com o auxílio do atrapalhado Xerife J.W. Pepper, um caricato "tira" americano que dá o tom na maioria das piadas que só o humor britânico é capaz de proporcionar. 
Nos anos de 1954, quando o livro foi escrito, não havia o politicamente correto dos dias de hoje. O preconceito racial, sobretudo no subúrbio dos Estados Unidos, era escancarado. Era algo banal e Ian Fleming registrou isso claramente em seu livro. 
No livro e também no filme, a primeira noite de Solitaire com Bond é retratada de forma sutil e quase velada. E quando isso acontece, principalmente no filme, logo começamos notar a ira de Kananga, que com tal atitude é sub julgado em sua condição masculina. Durante todo o tempo, 007 "vencia".
O que me impressiona mais é a riqueza cultural e como o ritual do voduísmo é retratado, não sei se de forma verídica mas os detalhes são aterradores e macabros, envolvendo até mesmo cobras.
À medida em que Solitaire já sem seus poderes, se une cada vez mais à Bond, mais Kananga e Barão Samedi fracassam. A grande farsa envolvendo o misticismo da figura do Barão é descoberta.
Uma das cenas que mais me impressiona é a cena em que Bond é colocado numa espécie de reserva natural que está povoada de jacarés e crocodilos e ele tem que atravessar a ilha sem ser atacado. A cena foi feita pelo dublê de Roger Moore várias vezes até dar certo mas mesmo assim é tensa e muito impactante.
É um excelente livro para quem gosta de rituais exóticos, boa música cultura de subúrbio e investigação de tráfico. E um excelente filme para relaxar pois tem muita comédia. E além disso, nos apresenta toda fleuma britânica e elegância sem par de Roger Moore que nos trouxe um pouco de fantasia para o mundo dos filmes de espionagem dando leveza ao personagem.

Eu retornarei em Contra o Foguete da Morte

PS: Essa série de textos é dedicada à memória de Ian Fleming e também aos amigos Lucian e Rildon que me incentivaram a fazer essa experiência. Obrigada, amigos. Beijos.
Esse texto também é dedicado a meu avô João (IM) que indiretamente contribuiu para eu ser fã de James Bond.







Comentários