Tentando vencer um trauma


Bom dia leitores, não tenho costume de expor meu dia a dia aqui neste blog afinal não sou famosa e acho que a internet não serve para isso. Mas há exeções à esta regra, sobretudo quando um simples texto pode ajudar outras pessoas que passam por traumas todos os dias, seja em maior ou em menor grau.
Tento 38 anos de idade e se tem uma coisa que me deixa completamente descontrolada é agulha. Fazer um exame de sangue.
Sei que é algo necessário pois através dele podemos saber de muita coisa que acontece conosco. Muitas doenças são diagnosticadas por esse exame.
Meu trauma referente a esse procedimento começou na infância. Fiz muitos exames devido à minha deficiência. Uma vez minha mãe me explicou que ainda bebê tive de retirar líquido da espinha e isto foi terrívelmente doloroso. Confesso não ter a consciência desse dia nítidamente mas as marcas traumáticas ficaram. Não suporto nem ver o adesivinho que é colocado (mesmo em outras pessoas) e fecho os olhos quando vejo um filme ou novela em que há cenas de retirada de sangue das pessoas, mesmo sabendo que é tudo de mentirinha a ideia me apavora.
Meu último exame foi aos 10 anos e foi uma luta. Até minha dentista na época me acompanhou e eu chorei muito na hora e depois então... Mais por medo do que outra coisa.
Faço aula de natação, esporte que gosto e que preciso para fortalecimento, num lugar que amo: o Corinthians. Para fazer as aulas é preciso atestado médico.
 Este ano tive um ultimato: ou eu fazia exame de sangue ou nunca mais obteria permissão para nadar.
Antes disso, já vinha me preparando para realizar esse exame talvez em maio deste ano ou ano que vem, tentando me convencer que "sobreviveria" a tal sofrimento.
Tenho conversado muito com uma enfermeira chamada Ana Paula que trabalha no posto de saúde aqui perto de casa e ela foi me entendendo, acolhendo, passando confiança como nenhuma outra pessoa na face da terra e eu resolvi por mim mesma vencer o medo e fazer o que era preciso. A Ana nunca fez "corpo mole" até me intimidava às vezes mas sempre me entendeu.
E lá fui eu, com medo, noite mal dormida, num choro descontrolado e a Ana me acolheu, conversou, tranquilizou do jeito que foi possível, me levou para uma outra sala para que eu não me traumatizasse ainda mais e minha mãe também me deu apoio.
Até que aconteceu a tal "picadinha" que de "inha" não tem nada. Gritei... Alto  alto mesmo com toda força agarrada com meu terço nas mãos mas tudo deu certo. Depois chorei por mais de uma hora descontroladamente como um bebê. Estou me recuperando ainda disso tudo mas vai passar. O pior já foi e se Deus permitir não será repetido tão cedo.
Obrigada Ana Paula, por tudo. Por suportar meus gritos e principalmente por SER HUMANA . Você não deveria se chamar Ana Paula (que aliás é também nome de uma querida amiga) mas sim Ana Nery, como a enfermeira símbolo do Brasil. Quem dera que todas as enfermeiras fossem como você!
Apesar de ter tirado o sangue considero que hoje foi uma pequena vitória sobre um trauma de anos. Agora pode ser que tudo fique mais suportável. Inclusive aconselho a pais e futuros pais que não inventem histórias para seus filhos. Sugiram que digam que dói um pouco mas que é necessário para uma boa saúde para que possa brincar por mais tempo ao invés de ir ao hospital. O nosso cérebro se prepara adequadamente para isso e não temos traumas nem leves nem graves. Espero continuar vencendo dia após dia meu próprio medo. Um dia conseguirei pois hoje já dei o primeiro passo.
 

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